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«Sentia-me protegida por ALGUÉM que sempre me acompanhava e dialogava comigo sem palavras, como um AMIGO invisível.»

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                                Foi num lar de agricultores, num ambiente rústico, muito simples, que nasci. Sou a última de quatro irmãs. Minha mãe era de piedade profunda, não de “bichanar” orações mas, silenciosa e atenta às necessidades de todos, o seu espírito permanecia no Alto. Sempre envolvida numa grande e serena paz...

                Meu querido pai era um homem de fé, mas não fervoroso. Verdadeiro e rectíssimo de consciência. Tinha muito cuidado na nossa boa educação a todos os níveis. 

                Foi neste ambiente que fui bebendo a fé cristã e um ideal grande que não me deixava contentar com meias medidas.

                Quando chegou a idade dos amores eu bem reconhecia a beleza do matrimónio (o exemplo de casa era lindo!) … mas, só podia ter uma dúzia de filhos?!... Seguir Jesus na vida consagrada era a maneira de alcançar uma descendência numerosa... Mas tinha vergonha de tanta originalidade!... Assim, andei uns anitos a resistir e bem fortemente!...E ser freira, oh! que coisa esquisita!!!... Contudo, Deus rodeava-me e de que maneira!... Sentia-me protegida por ALGUÉM que sempre me acompanhava e dialogava comigo sem palavras, como um AMIGO invisível...  

                Nas férias ocupava-me bastante a ler pois, por ser de natureza débil, os meus pais não me davam trabalhos pesados. Na adolescência eram montes de romancecos! A certa altura, num abrir e fechar de olhos, deu-se outra viragem vinda do Alto: é que enjoei, - mas a sério! -, esses livros, e veio-me uma sede tão grande de literatura espiritual, que nem consigo explicar!… Quando acabei de ler um livro que percorria os diversos estados de vida interior, fechei o livro e disse para comigo: - «Não quero mais nada na minha vida do que chegar a esta intimidade divina.» Fiquei logo resolvida em fazer-me religiosa de clausura!

                Daqui voltaram a acontecer mais sinais de Deus que me levaram a procurar a confirmação da Igreja através de um sacerdote perito na matéria, para descobrir sem erro da minha parte, a vontade de Deus. Esta tinha, nesta altura, um impacto tão grande em mim que facilmente desfazia os meus melhores planos. E foi o que aconteceu: quando chegou o momento da escolha onde realizar a minha vocação, as minhas convicções não valeram para nada… Quem me orientava só admitia que ingressasse na vida activa. Cá por dentro dizia com pena: - «Pronto, Senhor... Tu não queres, paciência... Entro nas Franciscanas.» (melhor dito: Congregação das Irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição, onde havia estudado) Passei lá 12 anos sem a menor impressão negativa; antes, guardo muitos bons exemplos, tendo ficado no meu coração uma especial estima por esta Congregação. Só que sentia que não havia nascido para lá… 

                Finalmente, em 1985,  transitei para o Carmelo, tão ardentemente desejado! Tive logo a sensação de entrar no meu mar, apesar das dificuldades normais de adaptação, pois o estilo de vida era outro, sem comparação. Mas parece que tinha o meu coração sempre pintado de verde, com um bem-estar jubiloso, pois as minhas ânsias interiores estavam bem realizadas e sentia uma profunda PAZ! De facto, tudo me encantava! Uma espiritualidade a iluminar todo o Evangelho, fazendo-me compreender melhor a riqueza nele contida e... tenho muito ainda a descobrir!... O silêncio, as horas de oração, a comunhão e alegria fraterna, o manancial da doutrina dos Santos do Carmelo... 

                Agora prevejo uma pergunta que me farão: então não há cruz no Carmelo, quando o próprio Jesus diz:- «Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me?»  Essa é para a Carmelita um tesouro especialíssimo! Dizia Sta. Teresinha: «No dia em que não sinto cruz parece-me um dia vazio, sem valor.» É que pode sofrer-se muito, sem deixar de se ser feliz. O amor a Deus-Trindade que nos habita, e à Virgem Maria, dá outra cor ao sofrimento. A oração assídua, a força dos sacramentos e a intimidade com o Senhor, dá-nos outros olhos para ler a vida e o mundo de forma sobrenatural. Assim, tudo é recebido como uma graça que nos vai configurando cada vez mais a Cristo Jesus, já que Deus Pai quer ver-nos semelhantes a Seu Filho e, nessa semelhança, está o gozo nesta vida até à Vida que não tem fim.

                Bendito seja Deus Pai que tão maravilhosamente me chamou ao Carmelo, bendito seja Deus Filho que amorosamente me sustenta e acompanha diariamente, bendito seja Deus Espírito Santo que me mantém em chama viva para glória dos Três e redenção dos meus queridos irmãos que peregrinam rumo à Eternidade. 

                                                                                               

                                                                                              Irmã Maria da Santíssima Trindade

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